sáb, 27 abril 2024

Crítica | Os Rejeitados (The Holdovers)

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O novo filme de Alexander Payne, que repete a parceria com Paul Giamatti, fez sua estreia no festival de cinema de Telluride, sendo amplamente aclamado pela crítica especializada, posteriormente o filme foi exibido no festival de Toronto, onde ficou em segundo lugar na corrida pelo prêmio do público, que perdeu para American Fiction. A história se passa em 1970 e gira em torno de um grupo de jovens com a típica rebeldia da idade que se encontram confinados em um colégio interno durante as férias de Natal, sob a guarda implacável de Paul Hunham (Giamatti), um professor rabugento, que a despeito de sua inteligência invejável, não parece ser capaz de compreender o básico sobre convivência humana.

O filme funciona como uma sátira que inicialmente foca seu humor no conflito de gerações e na comicidade da situação em que os personagens se encontram, mas conforme a narrativa avança, as circunstâncias levam três personagens a se aproximarem forçosamente, e a partir daí Payne passa a explorar o viés cômico em conjunto com uma carga dramática, na medida em que se aprofunda nos conflitos pessoais de cada um.

O filme demora um pouco para chegar no seu ponto de interesse, isso porque tem calma para assentar suas premissas e apresentar para o espectador quem serão os personagens responsáveis por conduzir aquela história, para que a posteriori seja possível compreender porque agem da forma que agem, quebrando o pré-julgamento que tinha sido propositalmente incutido na cabeça do público.

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Se para algumas pessoas mais afortunadas o fim de ano significa tempo de se reencontrar com a família e demais entes queridos para celebrar as festas de Natal e Ano Novo, para esse núcleo de personagens essa época só reforça sua solidão, já que por razões particulares a cada um, encontram-se sozinhos e são obrigados a conviver com pessoas com quem possuem pouco em comum.

Na tentativa de fazer uma limonada com os limões podres que lhes foram dados, essas três personalidades precisam encontram formas de equilibrarem seus temperamentos conflitantes para coexistir em harmonia e talvez conseguir aproveitar um pouco do feriado. E assim, conforme tentam olhar para o outro para melhor entende-lo, também são forçados a olharem para dentro de si, confrontando demônios do passado que ainda ditam suas ações no presente. Ao fazerem isso, eles acabam encontrando uns nos outros uma família, que não substitui aquelas que perderem ou que os negligenciaram, mas supre um conforto para enfrentar a época mais fria do ano. E é por isso que, a despeito de não existirem laços consanguíneos ou legais entre os envolvidos, esse é inegavelmente um drama familiar.

O trio de atuação, formado por Paul Giamatti, Da’vine Joy Randolph e o estreante Dominic Sessa, tem um importante papel na construção e posterior desconstrução desses personagens. Giamatti tem colecionado elogios por sua performance e já arrecadou até mesmo alguns prêmios da crítica, o ator é o responsável por sustentar o peso do drama à comédia, e o filme só funciona porque ele funciona. Já Randolph é quem possui menos espaço dentro da narrativa, ainda assim a atriz consegue, em poucos minutos, transmitir toda a dor silenciosamente carregada por sua personagem, responsável por fazer a ponte entre os outros dois, servindo como um reflexo da vida real, afinal o fardo de aproximar dois homens comumente recai sobre uma mulher, seja dentro ou fora do contexto familiar, já que somos doutrinadas a seguir uma linha conciliadora, enquanto eles são ensinados desde a infância a serem bélicos, reativos e inflexíveis. O grande trunfo de The Holdovers reside na forma como aproveita bem um elenco estelar ao mesmo tempo em que utiliza seus elementos cômicos e satíricos para mostrar como nossos traumas sejam eles longínquos ou recentes, podem trazer à tona nossas piores características e a única forma de verdadeiramente superar isso é cercando-se de pessoas. No fim do dia (ou do ano) precisamos de outros seres humanos que nos ajudem a carregar o fardo da vida, tornando nossa experiência um pouco mais leve.  E para isso as vezes é preciso abrir mão algumas regras auto impostas para compreender o outro e, só assim, ser compreendido por ele.

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Raíssa Sanches
Raíssa Sancheshttp://estacaonerd.com
Formada em direito e apaixonada por cinema
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