Um Eterno Primeiro Encontro é um projeto da Hulu, que chegou ao Brasil pelo Star+, e conta a história de Billie, uma garota que está tentando sair de um relacionamento tóxico com sua ficante quando conhece uma mulher aparentemente perfeita, ao mesmo tempo em que batalha com a possibilidade de estar sofrendo de demência, assim como sua mãe. Essa é a melhor forma de descrever o filme, sem entregar completamente todo seu enredo, algo que o estúdio não tentou fazer, já que a sinopse oficial escancara tudo para tentar atrair o espectador. Se na minha crítica passada questionei a decisão de contar um ponto de virada do filme logo no resumo, aqui vamos mais além, já que decidiram contar o filme inteiro mesmo.
Mas fique tranquilo, porque caso você, assim como eu, decida não ler a sinopse antes, o filme te entregará absolutamente todas as respostas nos primeiros trinta minutos (ou menos). É um mistério, sem qualquer mistério, não há nada para desvendar, nada para te manter curioso, nada a ser esclarecido no final, porque a diretora decidiu fazer isso já no primeiro ato mesmo.
E caso isso não seja suficiente, aproximadamente aos quarenta minutos de filme, somos brindados com uma cena que daria orgulho ao Christopher Nolan, já que ela nos explica tudinho aquilo que já sabíamos, bem detalhadamente, da maneira mais explícita e preguiçosa possível. O filme desiste de apostar em um sistema de pistas e recompensas que leva a protagonista a descobrir o que está acontecendo, afinal de contas é bem mais fácil que ela simplesmente encontre um vídeo de alguém lhe contando tudo.
Não é que eu tenha tentado adivinhar o final para me sentir mais inteligente do que o filme, é que realmente existe uma decisão consciente – e equivocada – dos realizadores de nos mostrar exatamente o que está acontecendo. A única resposta que não temos de pronto é como a personagem x está fazendo isso.
Mas então o que sobra para ser contado no restante do tempo? Mais uma cena de flashback explicativo só para garantir, e logo em seguida, um breve monólogo da antagonista explicando mais um pouquinho. Ao que parece o filme realmente duvida da capacidade interpretativa de seu público. Não só o mistério é mau desenvolvido, o drama também não é explorado de maneira satisfatória, todas as relações que a protagonista tem parecem rasas e os demais personagens são arquétipos estereotipados.
Nos momentos em que os personagens não estão nos dando aula sobre aquilo que estamos vendo em tela, os diálogos não poderiam ser piores. Por sua vez, os atores parecem estar lendo o texto pela primeira vez, a protagonista, por exemplo, assim como eu, passou os 87 minutos com cara de tédio, já a antagonista oscila entre a completa falta de emoção e o caricato, existe, no entanto, uma dupla de coadjuvantes que irá auxiliar a personagem principal e eles são as únicas atuações decentes do filme.
Para além de uma excelente ideia mal executada, há pelo menos o mérito de retratar de forma bastante elucidativa os relacionamentos abusivos – um tema pouco abordado no contexto homoafetivo –, mostrando a importância de reconhecer seus sinais, como, o isolamento dos amigos; as chantagens emocionais: “ninguém mais irá te amar”; os questionamentos sobre a sanidade e as falsas promessas de cuidado. Além de abordar, ainda que timidamente, questões sobre apropriação cultural.
