dom, 19 outubro 2025

Crítica | Urchin

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Urchin marca a estreia de Harris Dickinson (ator de Babygirl) na cadeira de diretor, o filme estreou na seleção Um Certain Regard do Festival de Cannes desse ano, logrando-se vencedor do prêmio FIPRESCI, além de render um troféu de melhor atuação masculina para o protagonista, Frank Dillane.

O longa narra a história de Mike, um morador de rua que acaba encarcerado após cometer um ato de violência, em um momento de desespero e fragilidade. Ao sair da prisão, Mike tenta reorganizar sua vida, buscando um trabalho e livrando-se dos vícios que o levaram até ali, porém o sistema que deveria reintegrá-lo parece trabalhar contra ele, tratando-o ora com uma falsa pena, ora com total desamparo, mas nunca como um ser humano complexo capaz de erros e acertos.

Negligenciado pelo Estado e sem saber como se ajudar a sair do ciclo de violência e solidão que entrou, Mike encontra conforto nas relações humanas construídas no ambiente de trabalho, onde ele é finalmente acolhido. Apesar de novato, Dickinson já se mostra muito competente para retratar as forças e fraquezas desse personagem tão cheio de sentimentos engarrafados. As cenas de dança em volta da fogueira e da noite de karaokê constroem um poderoso retrato de momentos chaves na vida do protagonista, sem precisar de nenhum diálogo. Tudo aquilo que deve ser comunicado é dito pela forma como a câmera de Dickinson captura o expressivo olhar de Dillane.

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O filme retrata a dura realidade de um homem à margem da sociedade sem colocá-lo no lugar de malfeitor, nem de vítima. Também não transforma seus traumas em um espetáculo circense de sofrimento interminável e incurável. Dickinson retrata-o como ele é em seu cotidiano, sem apontar dedos ou fingir simpatia. O tom contemplativo e observador é salpicado pontualmente por momentos bem encaixados de humor, que ao invés de tirar o peso da narrativa, acentua-o, pela forma com que Mike se usa dele como um escudo. 

Apesar de tangenciar temas considerados importantes – como a situação de abandono de parte da população acaba gerando um ciclo de violência que respinga em inocentes, ou como a justiça restaurativa pode acabar sendo mais prejudicial do que benéfica para todos os envolvidos – o filme não tenta ser maior do que é, nem carrega a falsa pompa de uma obra supostamente “necessária”. Os assuntos surgem naturalmente através do impacto que causam no personagem objeto de estudo e não de maneira panfletária, óbvia e expositiva. Ainda que Dickinson perca a mão aqui e ali – principalmente nos minutos finais – o jovem diretor já se mostra como uma promessa para o futuro, alguém para se ficar de olho nos projetos vindouros, seja atrás ou a frente das câmeras. 

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Essa crítica foi escrita por Nátali Machado. Siga ela...
Raíssa Sanches
Raíssa Sancheshttp://estacaonerd.com
Formada em direito e apaixonada por cinema
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