seg, 23 dezembro 2024

Crítica | Você Não Pode Beijar a Noiva

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O ato de casar-se consegue render uma comicidade já explorada. Assim visto em diversas produções, sejam clássicos como O Casamento do Meu Melhor Amigo (P.J. Hogan, 1997) ou novos sucessos como Esposa de Mentirinha (Dennis Dugan, 2011), a união matrimonial dá margem para bons questionamentos; o que é preciso para desejar passar a vida ao lado de outra pessoa – ou tentar, pelo menos – sob uma benção divina? O amor é suficiente para transformar uma existência solo em um convívio duplo? Pensando nas ramificações divertidas destas e das demais indagações, mais uma comédia romântica foi feita. Você Não Pode Beijar a Noiva (2011), de Rob Hedden, procura explorar o terreno contrário: e se essa junção de almas fosse a partir de uma conveniência e não de um afeto?

Bryan (Dave Annable) tem seu sustento na fotografia de animais com fantasias. Quando uma fatalidade ocorre com o gato de uma cliente, seu marido, um gangster croata, escolhe o fotógrafo para pagar a “dívida” e o obriga a forjar um casamento com a filha dele para que ela consiga o green card, passe representativo da legalidade na América. Contudo, não é permitido que o “casal” tenha qualquer tipo de contato físico e emocional, inclusive em sua lua de mel. Para completar, a noiva, Masha (Katharine McPhee), é sequestrada durante a viagem, fazendo de Bryan o responsável por resgatar a moça ao passo que o próprio personagem é declarado culpado do crime pela máfia. Neste meio tempo, ambos desenvolvem um contato mais romântico, tornando tudo mais complicado. 

Expositivo desde o início, estar perdido no filme é algo que só acontecerá caso o espectador ligue fatos superficiais com a realidade. O motivo pelo qual Bryan foi escolhido para entrar no esquema do casório, devido a um acidente com o felino da esposa de Vadik (Ken Davitian), o criminoso da Croácia, é apenas um pretexto para o ponto de partida da história. Os estopins narrativos, alguns deles envolvendo o que foi mencionado acima e o propósito de ajuntamento de Bryan e Masha, soam óbvios caso sejam observados de maneira voltada para o modo em que indivíduos apaixonam-se. O que requer tempo, então, acontece logo na primeira oportunidade que ambos se veem. Sem uma conexão tátil e convincente, os falsos “casados” criam uma cena que perdura por todo longa-metragem: os personagens tentam desenvolver um sentimento de apego que é imprescindível transmitir para o público, porém, este pode pensar primeiramente na incoerência de momentos elaborados para originar a afeição de Bryan por Masha, tal qual a imagem da protagonista se banhando aleatoriamente em um chafariz. 

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Embora decorra uma inversão de estereótipos em dados instantes – a mãe de Bryan mantém o intuito de casar o filho – que geralmente são destinados às mulheres, com a pressão da sociedade para que considerem o “desencalhar” como meta principal em suas vidas, a obra não é livre de rótulos. Ainda que o protagonista passe um bom nível de carisma, a maioria das personagens femininas não vão além do programado. Entendido que Masha se enquadra no padrão de mulher bonita e recatada (por mais que o longa-metragem insista em colocá-la no papel de livre dos vínculos com a necessidade de casamento), Tonya (Mena Suvari) irradia o molde da desesperada por um homem, com a personagem buscando todos os meios para chamar sua atenção. A falha está na aposta pelos padrões, não fugindo disso inclusive na escolha dos vilões e seus fins calcados somente na vilania do ser mal apenas porque é para ser. 

Contudo, salvam-se figuras que, apesar de serem caricaturas, funcionam quando são postas em lugares certos e acontecimentos de grande propensão ao risível. O helicóptero em meio a uma tempestade, com Rob Schneider interpretando o guia do hotel, Ernesto, é um exemplo de potencialidade hilariante da obra. Se o personagem de Schneider, que por si só é conhecido por ser um nome de peso na comédia, obtivesse espaço para colocar-se mais notório, talvez Você Não Pode Beijar a Noite seguisse rumos mais satisfatórios no que propõe a ser. Outro mau-aproveitamento é a mãe de Bryan, de Kathy Bates, e sua obsessão por junção conjugal, retendo nela o real humor que protagonistas como Masha não contém. 

Por não interligar tanto o espectador com a trama do longa-metragem, a inexistência de picos dramáticos mais expressivos são recorrentes. A empreitada de um clímax envolvendo uma sequência com senso de gravidade imediato estende essa pretensão ao máximo, reduzindo o que era para ser apreensivo – ou que poderia ser – em uma ocasião morna e previsível. As reviravoltas contínuas, aliadas a pequenas doses de comicidade, cansam ao esperar o resultado de todo filme e consequentemente dos perigos ali impostos, demorando mais do que deveria ser sua possível e sucinta conclusão. Independentemente da obra exagerar na duração de seu ápice, ela não apresenta uma construção em excesso, cujo as sequências carecem demais de tentativas ininterruptas de tirar sorrisos largos e sucessivos a todo custo. Não há nada de extremo. Um acerto e, em certas conjunturas, um erro. 

Você Não Pode Beijar a Noiva usa compostos que o reaproveitamento os fez identificáveis em demasia. Ter personagens de competência cômica não usufruídos decentemente e uma simplicidade maior do que outras comédias românticas, porém também não usufruída com mais sabedoria, categorizam o longa-metragem em um daqueles que não emitem novidades repaginadas ou surpresas. O filme mantém-se em um estado de neutralidade quanto ao quesito de querer dizer uma opinião e não dizer nada. A obra, porém, em pontuais momentos, diz o que o gênero precisa para se fundamentar: a linguagem do trazer o riso da audiência para si sem forçar fantasiosas ideais. Por não acrescentar muito à essa vantagem, há pouco o que enunciar sobre um enredo tracejado na obviedade. Para uns, isso é diversão, para outros, é só o óbvio.  

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