1 de maio de 1994. Senna deixaria de ser o maior herói do Brasil, pra se tornar uma lenda.
Há um tempo já não escrevo por aqui pela qualidade da equipe que possuo. Mas, era quase uma obrigação falar sobre o herói e ídolo de milhões de brasileiros. E meu também. Claramente a opinião terá um tom de emoção e lembrança, mas também o julgamento técnico da produção (de extrema qualidade) da Netflix!
Senna, nova minissérie da Netflix, lançada em 29 de novembro é a mais abrangente “docusérie” sobre Ayrton Senna da Silva, narrando em ótimos detalhes desde sua história nas pistas desde suas infância, e também muito de sua vida íntima e pessoal.
Gabriel Leone faz um trabalho fantástico e incorpora, quase que espiritualmente, o verdadeiro Senna. Em cada episódio parece que de fato estamos revendo o homem e o piloto conhecido por todos. Suas ações e trejeitos físicos foram estudados com perfeição pelo ator, que em muitos ângulos se parece muito fisicamente com Senna, mas que na ação, recria as lembranças perfeitamente.
Mas antes é preciso citar a qualidade da produção, que se atentou a praticamente todos os mínimos detalhes (das placas amarelas dos carros na época, aos patrocinadores e cenas fotografadas, aos cartazes e pinturas, por exemplo). A muito a Netflix não apresentava algo tão meticuloso e extremamente bem filmado.
Claro, por se tratar de uma série onde o foco também é o automobilismo, o trabalho de tecnologia é VFX feito pela estúdio Miagui (que é uma empresa nacional, diga-se de passagem) é de encher os olhos. Qualidade total de Hollywood em cada detalhe.
Voltando a série, é notável que o acerto se dá também por cada núcleo de atores e cada uma de suas interpretações. Foi possível reviver a história de Senna junto de sua família e amigos. Tanto é que, muitos que conheço sequer sabiam que Senna foi casado bem no inicio da carreira. E o quanto isso foi relevante pro seu futuro e muito bem representado na série.
Eu seria injusto em não dizer que todos foram incríveis em seus papéis, mas Susana Ribeiro como Dona Neyde e Marco Ricca como seu pai, Maurão, resgatam de fato a família dele.
Outra personagem que chega a assustar tamanha semelhança é Xuxa, aqui interpretada por Pâmela Tomé. Quando a vi em tela tive o mesmo choque quando comparei Elizabeth Debicki como a Princesa Diana em The Crown. Perfeita.
Galvão, interpretado por Gabriel Louchard é mostrado de fato como grande amigo que foi de Senna, nos bastidores e na vida pessoal. Além disso sua narração nos episódios foram extremamente semelhantes ao original.
Resgatar a memória de alguém que ainda vive na lembrança de tanta gente é uma tarefa de risco para qualquer direção, mas Vicente Amorim e Júlia Rezende conseguem atingir em cheio os fãs com uma memória viva feita com qualidade e emoção.
Cada episódio, muito bem dividido, caminha junto com Senna até sua chegada a F1, mostrando detalhes, que muitos de nos sequer ousariam conhecer. E outros, claro, como a rivalidade com Prost, aqui interpretado por Matt Mella, – que acreditem, trabalhava como apresentador francês para a McLaren! -, e suas posições únicas contra a FIA, foram de fato eixos centrais no roteiro.
Obviamente que nem tudo é perfeição. Sem entrar em muitos detalhes, e por ser uma opinião minha, não há motivo para que Xuxa tivesse um episódio inteiro dedicado a ela, enquanto Galisteu aparece menos de 5 minutos no geral. Mídia, marketing, influência familiar? Não saberemos; mas poderíamos ter visto mais vitórias dele na pista e menos declarações de amor.
De toda forma é o material mais completo, próximo e integralmente comovente sobre a história e vida de Senna, dentre tantos documentários e filmes já feitos sobre ele.
E sim. Eu chorei várias vezes. Nos primeiros 3 minutos do primeiro episódio e em quase todo episódio final.
Nunca vou deixar de me comover ao lembrar daquele 1 de Maio de 1994, enquanto eu e meus pais enchíamos balões pra comemorar o meu aniversário de 7 anos, dia 2, que teria o tema de fórmula 1, e a TV ligada na corrida. A alegria daquele dia terminava as 13:40. Trágico. Marcante.
Eu perdia meu ídolo. O Brasil perdia seu herói. Senna se tornava uma lenda.
E agora a Netflix reforça com maestria esse legado, com a bandeira do Brasil e o tema da vitória!
Senna, eterno.