Funciona tanto de uma maneira prazerosa pra quem curte um cinema atrativo e bem feito, e também para os fãs mais apegados dos quadrinhos. Dá-se por dizer que James Gunn faz o básico com o herói aqui, porém o desenvolvimento e composição da fantasia é tão prazeroso de se assistir, que vira algo emblemático. Se afastando daquele visual sem graça e cinza que muitos filmes de herói entregaram nos últimos anos, tornando cada vez mais cansativo o gênero de heróis.
A ideia de já começar em meio a ação, em mais um dia normal para o então Superman, atuando por 3 anos já, é um convite ao melhor estilo desenho animado clássico da DC que fomos acostumados a assistir no SBT. Gunn resume brevemente com um simples texto para contextualizar os eventos que irão surgir. E assim o filme segue, o conflito entre Superman e Lex é de saltar os olhos, essa rivalidade existe apenas na cabeça do vilão e sua obsessão inexplicável pelo homem de aço.

Talvez oq mais impressiona aqui é o seu conjunto. Cada composição, cada cor em tela, cada ângulo de câmera que parece sair de um quadro de HQ. A sonoplastia de cada cena de luta reforça o impacto e força dos personagens meta humanos. E não só isso, o CGI do filme é excelente, não só em encenar algo que se torna crível em tela, mas também mistura com o cartunesco, tal qual o Kaiju gigante que se assemelha mais um desenho animado vivíssimo em Live Action. As porradas de Superman parecem sair de um videogame, tal como um especial para finalizar seus oponentes. E também um uso criativo do diretor de direcionar cada poder existente do herói em momentos chaves, tanto o Raio x para examinar alguma criatura, o laser para afastar os inimigos mais fortes ou um sopro para afastar um cachorrinho do perigo.
E Gunn abraça mesmo o personagem, deixando bem claro sua crescente humanidade e apreço pelo heroísmo e respeito com toda forma de vida. Até mesmo salvando um esquilo, para deixar bem claro o gigante coração que este Superman possui. Talvez fique pau a pau com Guardiões da galáxia 3 em relação a maturidade de Gunn em representar fielmente aqueles personagens, ainda sim trazendo sua identidade audiovisual tão conhecida.
Um fator interessante é o filme trazer uma questão acerca dos pais biológicos de Clark, no caso Jor-El e Lar. O descobrimento do resto da mensagem é na verdade uma contradição daquilo que Clark estava lutando e aprendendo em todos aqueles anos, seus pais deixam claro que se for necessário subjulgar aquele povo para alcançar a paz, tudo bem. Uma brecha descoberta por Lex Luthor ao acaso para manchar a imagem do herói. E a partir disso, o herói é quebrado, todas as suas convicções são jogadas fora e um senso de vazio o preenche. Algo parecido com Batman, onde Bruce descobre que seu pai se consultou com o mafioso Falcone para resolver um problema. E o aprendizado do herói quanto a isso é um momento emocionante, uma passagem envolvendo seu pai de criação, Jonathan, e seu discurso quanto às ferramentas e lições que devemos passar aos filhos, porém apenas auxiliando, nunca os definindo, o real responsável por aquilo é seu próprio filho e suas ações. E a linda cena final ilustra essa criação de personalidade e auto imagem com quem ele é, trocando a mensagem de conforto de seus pais biológicos com reais imagens de sua criação aos pais humanos.

E o universo é prazeroso de assistir. Cada personagem, por mais secundário que seja, possui uma função que irá agregar com a trama e seu desenvolvimento. E não isso, Gunn sabe muito bem colocar personalidade e traços de cada um em pequenas falas, atitudes e trejeitos que revelam. Revela essa nerdice na melhor intenção do diretor e também um carinho com o projeto, de querer adaptar da melhor forma possível aqueles personagens.
E em seus momentos dramáticos e de pausa em meio aquela loucura fantasiosa, o filme ganha camadas, traz tanto química em tela, boa encenação, bom uso da música e um bom uso dos olhos também, para trazer conforto e carinho entre seus personagens. O primeiro momento entre Clark e Lois, a briga, o embate entre Superman e a repórter, é muito divertido e traz o plano de fundo político que o filme aborda desde seus primeiros momentos. Depois, mais tarde, um momento de conforto dos dois, com um ser cósmico sendo derrotado de fundo pela “Gangue da justiça”. Um Clark chateado e confuso quanto sua função na terra e um crescimento humano lindo do personagem, mais tarde falado e assim derrotando Lex, apenas usando as palavras.
Talvez um defeito mais perceptível sejam algumas falas expositivas quanto ao sentimento ou contexto que o filme não encontrou outra forma de apresentar. Seja Superman descobrindo seu clone e falando sobre sua descoberta, e assim se casando com o fato de Lex Luthor ter conseguido entrar em sua fortaleza, algo que não precisava de explicação. Ou até mesmo a engenheira explicando que deixou de lado sua humanidade para virar uma meta humana com poderes de transformação. Mas isso tudo é só implicância de cinéfilo chato.

É um filme que lembra, guardado as devidas proporções, o homem aranha de Sam Raimi, não só pelo abraço do fantasioso, do heroísmo, mas também de uma humanidade gigante no longa. De aprendizados e erros, que vão fazer parte e vão nos moldar. Aquele carinho das crianças pelo Superman, os constantes atos heróicos, o olhar das pessoas em admiração e respeito pelo herói da cidade. A cena do Superman segurando o prédio caindo e assim salvando a mulher em perigo no carro, aquela troca em segundos, tanto em seu grau de heroísmo quanto o agradecimento com daquele Deus voando, é algo até que remete os takes de Zack Snyder e essa construção do mito.
Dentro dessa lógica Mainstream do gênero super herói, James Gunn é o melhor nos dias de hoje. Não só pelo abraço da fantasia, uma união de suas boas ideias e criatividade em tela, mas também unir com sua personalidade audiovisual, desde as piadas com duplo sentido e o bom uso de músicas guiando as cenas de ação.
Superman se destaca não só pela direção fantasiosa, enérgica e recompensadora com aquela aventura do personagem. Mas com um elenco vivo e que parece aproveitar cada segundo de tela para imprimir a melhor imagem possível de seus personagens. O resultado é o filme mais quadrinho possível e um Superman carismático, vivo e herói, no maior sentido possível da palavra.