Faroestes são filmes que conquistaram públicos fiéis até as décadas de 80. Todo mundo nascido antes disso sabe o nome de algum filme ou personagem famoso do “velho oeste”. Três Homens em Conflito é clássico do gênero. Mas com o surgimento das ficções e o crescimento do cinema de ação, o tema foi ficando de lado das grandes produções, tendo alguns relances famosos de vez em quando; Os Oito Odiados que o diga; mas isso até hoje. Agora o retorno do gênero com grandes produções é real, e talvez em pleno 2021, teremos novamente gerações que falem sobre os filmes de cowboy feitos hoje em dia.
Vingança & Castigo, o mais novo faroeste original Netflix é, além de um resgate do tema, uma mensagem anti-racista valiosa, que não se força para ser assim, e conquista o público por suas tramas bem feitas e pela legião de estrelas que o encabeçam.
O filme começa mostrando que a história narrada pode ser fictícia, mas que aquelas pessoas existiram; com letreiros que lembram muito os filmes de Tarantino. De cara isso dá ao espectador mais atenção aos acontecimentos e aos detalhes. Os primeiros cinco minutos são tão belos visualmente – o filme todo é – mas a abertura tem uma qualidade tão grande, que existe a vontade de estar dentro do filme observando os acontecimentos. E é nessa abertura cheia de beleza e tensão que o roteiro do filme se cria e se desenvolve.
O “fora-da-lei” Nat Love (Jonathan Majors, um dos novos “queridinhos” de Hollywood, mas que faz por merecer esse rótulo) descobre que seu inimigo Rufus Buck (Idris Elba, que mais uma vez tem uma atuação sólida) será libertado da prisão, e assim reúne sua gangue para rastrear Rufus e buscar vingança pela morte de seus pais. Uma premissa simples, mas que define que o filme não é de vilão contra mocinho; aqui ninguém é verdadeiramente um herói. Nat Love (1854-1921) que no mundo real é um ex-escravizado e narra em sua autobiografia histórias de lutas contra bandidos e também junto com eles. A inspiração na realidade cria uma ficção racional!
Ao lado de Nat estão Stagecoach Mary (Zazie Beetz, sensacional no papel), Bill Pickett (Edi Gathegi), o rápido no gatilho Jim Beckwourth (RJ Cyler) e de Bass Reeves (Delroy Lindo, que é simplesmente Delroy). Junto a Rufus Buck temos Trudy “Traiçoeira” Smith (Regina King, que sabe criar uma tensão em cada cena que comanda) e Cherokee Bill (LaKeith Stanfield, responsável pelos melhores diálogos do filme, sendo um típico bandido inteligente e terrivelmente calmo.)
Além desse elenco estrelado, temos a direção impecável de Jeymes Samuel, que co-escreveu o roteiro com Boaz Yakin. Por falar em roteiro, ele usa o tempo do filme para apresentar com calma cada personagem e mostrar o que cada ação irá desencadear. Não se trata apenas de um filme que narra a busca por uma vingança, e sim de uma estrutura complexa, mas bem organizada de poder e crimes.
Infelizmente o mesmo roteiro acaba empurrando muitas coisas já na parte final, o que não atrapalha a trama, mas cria voltas desnecessárias para o final, que é essencialemente belo, carregado de referências dos melhores westerns, tristeza, raiva e de muito, muito Tarantino!
A trilha sonora é impecável, e conta em boa parte com os toque de Jay-Z em sua construção. Mas novamente a fotografia e as cores do filme tornam tudo maravilhosamente impecável em cena. Há tempos não via um filme em que o desejo era tocar em alguma roupa, ou apreciar o ambiente junto dos atores. Claramente a produção deverá ter uma indicação ao Oscar de fotografia.
Com muito mais castigo do que vingança, Vingança & Castigo é um faroeste lindo no século digital, com um elenco estrelado, competente e acima de tudo perfeito para cada papel. Trás uma história genial, com uma força anti-racista gigante e uma beleza visual que faz o olhar gélido de Clint Eastwood parecer estar observando encantado cada ação do longa!
O filme já está disponível no catálogo da Netflix!