qua, 5 março 2025

Crítica | Mickey 17 (Texto com SPOILERS)

Publicidade

ESTA CRÍTICA POSSUI SPOILERS DO FILME. LEIA POR SUA CONTA EM RISCO.

Mickey 17 se torna mais um exemplo na filmografia de Bong Joon-Ho de retratar a sociedade atual e orquestrar uma sátira (muito óbvia) sobre os principais arquétipos políticos. E com isso, ele ainda mescla comédia e aventura ao longo de uma interessante jornada, porém confusa ao olhar geral da obra. O auge do filme fica por esses momentos gostosos de comédia e essa brincadeira envolvendo os múltiplos.

O filme ganha bastante atenção ao explorar essa condição do protagonista em suas constantes mortes, praticamente se tornando um ser imortal. A diferença é que sua importância para aquela sociedade é puramente descartável, um boneco de testes de carne, e constantemente sendo lembrado que aquele é seu trabalho, ele leu e assinou os termos (não leu). E o personagem constantemente vai ser questionado por seus colegas e amigos próximos sobre a sensação de morrer, algo que nitidamente o incomoda, ele sente tristeza e vazio ao detalhar um pouco daquele sentimento. Em diversas partes do filme, Mickey será usado, e não apenas em seu trabalho, mas pessoalmente. Seja no auge do filme, o momento que sua namorada descobre existir múltiplos dele e amplia seu desejo fetichista ou até mesmo o momento hilário de negociação com uma colega rival que descobre os múltiplos e tenta ficar com um deles. Mesmo que não aprofundado e se perdendo na reta final, o nosso protagonista é constantemente usado e descartado, ampliando um sentimento de vazio para sua vida.

Publicidade

E em meio essa comédia e ficção científica, existe um cunho político de sátira já existente na filmografia do diretor. Aqui é algo mais óbvio e exagerado, o personagem do Mark Ruffalo numa mistura de falas e trejeitos de Donald Trump e uma ambição tosca à lá Elon Musk. O problema é que a atuação do ator fica bem esquisita, o exagero não parece combinar e fica algo bem esquete de canal do YouTube. Ao contrário da Toni Collete, que funciona literalmente como um ser aos ombros de Marshall e que vai alimentado com falas e manipulando as ordens e escolhas do personagem, fora isso todas as manias e desejos bizarros da personagem.

O show mesmo fica para Robert Pattinson, algo já esperado com os últimos trabalhos e uma versatilidade do ator. Ele entrega uma dualidade do Mickey 17 e 18 que convence tanto nas atitudes quanto até mesmo na voz. Enquanto o principal mescla o inocente, idiota e gentil, o seu oposto beira algo psicopata, revoltado e ardiloso, talvez sendo uma revolta depois de tudo que passou e se materializando naquele Mickey. A voz do 17 é impressionante, sendo irritante alguns momentos, mas causando uma dó com o personagem em outros. Já o 18 torna algo mais firme e frio nas falas, trazendo aquele desejo de ódio reprimido por ser uma cobaia viva. As interações entre os dois não conseguem causar estranheza em momento algum, a sensação é de ver duas pessoas idênticas, mas com personalidades completamente diferentes. Aliás, o filme traz essa condição de apesar do personagem sempre que volta é o Mickey tradicional e com as mesmas memórias, é pontuado pelo protagonista e seus amigos que cada versão traz um tom mais diferente do outro, seja alguém mais irritado, chato ou neste caso, psicopata.

E o filme fica confuso pois ele tenta mesclar política, sátira, comédia mais boba, aventura e uma reta final voltada a proteção animal.  Seja nos relacionamentos, que alguns ficam apenas falados e com um sentimento de não desenvolvimento, exemplo disso é sua esquisita amizade com Timo que o filme perde o interesse em desenvolver aquilo propriamente. Seja na crise existencial do Mickey quanto seu trabalho e vida que perde força ao decorrer do filme e no final apenas conclui, mas não deixa um impacto com sua decisão de cancelar o programa de impressão de humanos. E os diversos momentos que o filme opera essa safira política, se utilizando especialmente do Mark Ruffalo, parece mais um esgotamento de algo que já entendemos onde quis chegar e desperdiçando tempo para desenvolver outros pontos importantes deixados de lado. Um exemplo mais limpo, é a sequência do sonho de Mickey ao final do filme que parece a princípio um novo conflito com os vilões do filme, mas acaba se tornando apenas um anseio sem objetivo para concluir algumas ideias e medos do protagonista, se torna mais um consumidor do tempo de tela do que um agregador em seus 137 minutos de longa .

De maneira geral, é um filme divertido e interessante, que acaba se perdendo em alguns momentos devido seu inchaço de temas que quer debater e mostrar. A performance de Mark Ruffalo é bem esquisita e fora de escopo, porém o resto do elenco é um banquete de carisma e conforto com o tom do filme. O diretor apresenta um misturado de comédia e ficção científica que é bem atrativo com o já conhecido do diretor, algo beirando a luta social de Expresso do Amanhã, a pauta de proteção dos animais de Okja, e uma comédia exagerada no estilo parecido de Parasita, nas devidas proporções.

Publicidade

Publicidade

Destaque

Crítica | A Ordem

Baseado em fatos reais, A Ordem narra a tentativa...

Crítica | O Homem-Cão

Metade humano, metade cão. O Homem-Cão nasce depois de...

Homem-Aranha 4 | [Rumor] Novo filme será uma sequência de Avengers: Doomsday; Confira!

Segundo informações do insider Daniel Richtman, Homem-Aranha 4  será uma...

Crítica 2 | O Auto da Compadecida 2 (Com Spoilers)

Após mais de 20 anos dado como desaparecido, o...
ESTA CRÍTICA POSSUI SPOILERS DO FILME. LEIA POR SUA CONTA EM RISCO. Mickey 17 se torna mais um exemplo na filmografia de Bong Joon-Ho de retratar a sociedade atual e orquestrar uma sátira (muito óbvia) sobre os principais arquétipos políticos. E com isso, ele ainda...Crítica | Mickey 17 (Texto com SPOILERS)