qui, 25 abril 2024

Crítica | Mulan (2020)

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Live Action é o termo usado para definir uma adaptação de um desenho ou animação feita com atores e atrizes reais. Esse “gênero” tem atualmente feito bastante sucesso, em especial na Disney, no cinema. Remakes de filmes clássicos de animação, como A Bela e a Fera, Dumbo e O Rei Leão tem conquistado a bilheteria, dividido a opinião dos críticos e do público. Para aumentar essa lista, temos em 2020 o live action de Mulan, que infelizmente, devido a pandemia tem a sua estreia ocorrendo em poucos cinemas ao redor do mundo e no Disney Plus.

Disney’s MULAN..Mulan (Yifei Liu)..Photo: Film Frame..© 2019 Disney Enterprises, Inc. All Rights Reserved.

É muito triste ver que uma produção como Mulan, o remake mais caro da Disney (o orçamento passa dos US$ 200 milhões), não esteja sendo vista nas telonas do cinema. O longa é um épico de ação que alegra os olhos do espectador, usando bem a paleta de cores e os cenários para encantar. O nível de sofisticação e atenção aos detalhes é de encher os olhos e merece ser lembrada no Oscar. Porém, nem tudo é perfeito nesta trama. Se tecnicamente o longa impressiona, em outras áreas o filme fica devendo. Um dos pontos de maior crítica é o roteiro. Se na animação Mulan defendia a família e se mostrava uma mulher a frente do seu tempo batendo de frente com o machismo em algumas situações, a nova releitura opta por mostrar a personagem defendendo a família, mas respeitando as tradições do patriarcado da época. Isso não é um erro, mas se torna confuso. Como se pode respeitar algumas regras e quebrar outras se todas elas estão no mesmo pacote? O filme também peca na sua montagem, em especial nas cenas de ação que opta por usar câmeras em close nos personagens, isso faz em alguns momentos o espectador se perder geograficamente. Em pelo menos duas situações do filme o personagem em destaque no momento da ação vai do ponto x ao y de modo quase mágico e não se sabe onde o personagem está na hora do pega pra capá. Os efeitos especiais também tem altos e baixos, o CGI fica evidente e deixa um ar de artificialidade em algumas cenas.

Foto: Disney/ Divulgação

Os fãs mais ferrenhos da animação podem se frustar com este filme. Muito pouco da animação é visto em cena. Aqui ou ali vemos uma menção ou até mesmo um easter egg da animação de 1998. A diretora Niki Caro (McFarland dos EUA) opta em fazer uma releitura da lenda de Mulan, mas fiel as tradições orientais. Não temos as canções da animação no filme, mas sim alguns trechos instrumentais dessas canções que são usadas pontualmente. Não temos Mushu e outros personagens da animação que serviam de alívio cômico na trama, aqui a seriedade impera, mas nada de modo sombrio. Nenhuma dessas ausências prejudica a trama ou a nova proposta da diretora, que no geral é muito bem executada.

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O que pode incomodar gregos e troianos (leia fãs da animação e quem nunca viu) é a escolha da direção em tornar a personagem central em uma super-heroína da Marvel. Mulan é um guerreira perfeita: sobe em telhados, escala paredes e atira lanças nos inimigos com tremenda força e não sofre ferimentos ou um arranhão sequer durante todo filme. Mulan lembra muito mais a Carol Danvers de Capitã Marvel do que um ser humano normal. Em ambas produções elas são instruídas a reprimir seus superpoderes (dons) para poderem ser aceitas. 

Foto: Disney/ Divulgação

O filme funciona mais como uma homenagem a cinema e cultura da China, isso é sentido, em especial, nas cenas de luta, que são maravilhosamente bem coreografadas e filmadas. A direção usou e abusou de ângulos diferenciados para mostrar as lutas e acertou em cheio. É impossível não lembrar de obras como O Tigre e o Dragão e O Mestre das Armas ao assistir essas cenas, a cena de abertura do longa é um exemplo. Outro ponto positivo do longa é como ele mostra as dificuldade no treinamento de Mulan e seus esforços para não chamar a atenção dos outros e ser descoberta, o filme sempre lembra do que pode acontecer caso isso aconteça e a direção, sabiamente, optou em colocar a protagonista entre soldados jovens, permitindo a personagem se misturar a eles sem ter que recorrer a uma maquiagem caricata, o que poderia causar um estranhamento e tirar toda credibilidade do projeto.

No quesito atuações, aí sim temos algumas atuações pra lá de caricatas e desperdiçadas. Jet Li (Os Mercenários) faz uma participação especial no filme, seu personagem não tem 10 minutos de cena e pouco faz algo em cena, o que é uma pena. O vilão interpretado por Jason Scott Lee, que visualmente lembra muito o vilão da animação original, quase não é desenvolvido sendo um personagem unidimensional e uma caricatura da obra anterior. Os destaques são a antagonista Gong Li (Memórias De Uma Gueixa) que funciona como um contraponto interessante a protagonista e a Mulan interpretada por Liu Yifei (O Reino Proibido) que não é o símbolo girl power que todos acharam que ela seria, mas defende bem os seus ideias principalmente mostrando que é importante se aceitar como é, sem medo de julgamento.

Foto: Disney/ Divulgação

Mulan se afasta do conteúdo original para contar uma história mais fiel a lenda. Essas mudanças fazem o longa funcionar como uma releitura da clássica animação, o que pode frustar alguns fãs. Mas entre os acertos e erros de narrativa o saldo é positivo e deve agradar.

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