sex, 3 janeiro 2025

CINEMA 2024 | Das franquias consolidadas à alta do terror

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As expectativas da indústria de Hollywood para 2024 eram consideravelmente inferiores aos resultados comerciais totais de 2023 – ano marcado por grandes fracassos de mega orçamento, mas que trouxe alguns dos lançamentos-evento mais surpreendentes dos últimos anos. O curioso é que, durante quase todo o primeiro semestre, essas previsões pareciam se concretizar mesmo, com poucos lançamentos enorme repercussão e algumas frustrações consideráveis entre produções muito estreladas, mas, a partir de junho, as coisas mudaram de figura e, no saldo total (ainda por ser computado na íntegra), esse último ano não ficou tão atrás do anterior quanto os mais pessimistas previam.

Nos Estados Unidos, a bilheteria anual de 2024 ficou em cerca de $ 8,5 bilhões, abaixo, portanto, dos $ 8,94 bi de 2023, mas acima dos $ 7,4 de 2022, que foi considerado o ano de retorno pós-pandemia. O calendário de estreias não parecia tão intenso para boa parte dos termômetros, de fato, sobretudo devido ao número mínimo de projetos de super-herói e às greves que acarretaram uma série de adiamentos importantes. E, ainda assim, o ano demonstrou uma imprevisibilidade nos resultados de alguns projetos esperados que deve manter os produtores e investidores quebrando a cabeça para entender as demandas por tempo indeterminado.

PRIMEIRO SEMESTRE E O TEMOR PELO FUTURO

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Janeiro costuma ser um mês parado de grandes lançamentos e, este ano, fevereiro também entrou no pacote de baixa para os exibidores, com boa parte do foco voltado para os filmes do Oscar. Resultados razoáveis de filmes como o musical Meninas Malvadas e a cinebiografia Bob Marley: One Love, que arrecadaram respectivamente $ 104 mi e 180 mi, não são o tipo de lançamento que mobiliza de verdade as salas de cinema para os exibidores.

Um dos mais esperados do ano, Duna: Parte 2 se consagrou, portanto, como o primeiro filme-evento de 2024, com uma bilheteria mundial de $ 714 milhões, um aumento impressionante em relação à Parte 1 ($ 400 mi – mas considere-se o lançamento híbrido em ano pandêmico). Aclamada pela crítica, a segunda metade da adaptação de Denis Villeneuve estebeleceu a franquia como uma das mais bem sucedidas da ficção científica e confirmou a sequência, a ser lançada em 2026, até segunda ordem.

Também produzida pela Legendary e distribuída pela Warner, a saga de monstros trazida de volta com Godzilla e Kong: O Novo Império mostrou que o interesse do público americano e mundial pelo universo não diminuiu. Com cerca de $ 570 mi, o filme de Adam Wingard teve críticas mistas e mesmo assim se tornou o mais bem sucedido filme de Godzilla em números totais até hoje.

Um meio termo entre o morno e o sucesso pode-se chamar a ficção-científica Planeta dos Macacos: O Reinado, quarto longa da nova franquia iniciada em 2011 com a saga de Cesar e que agora acompanha novos personagens, sob a sólida direção de Wes Ball e, novamente, efeitos visuais do mais alto cuidado. O resultado nos Estados Unidos passou por pouco os $ 170 mi, levemente acima do aclamado filme anterior, lançado em 2017, mas o saldo global foi de $ 397 mi, o menor entre os quatro por uma boa diferença. Ainda assim, com o orçamento de $ 160 mi, parece ter sido mais do que suficiente para confirmarem a próxima sequência, a ser lançada em 2027 pela 20th Century Studios/Disney.

Celebrando o aniversário de 40 anos do longa original, o novo Caça-Fantasmas: Apocalipse do Gelo fez $ 200 mi no mundo todo, contra um orçamento de $ 100 mi, resultado aparentemente morno que, ainda assim, também justificou a confirmação de uma outra sequência pela Sony. Mesmo lançamentos de terror de grande estúdio ficaram para trás nesse primeiro semestre, como se viu acontecer com os elogiados A Primeira Profecia ($ 59 mi de bilheteria contra $ 30 mi de custo) e Abigail ($ 42 mi contra $ 28 mi).

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Os meses após essas estreias assustaram parte dos envolvidos na indústria, especialmente com o fracasso comercial de dois filmes caros, elogiados pela imprensa e com grande elenco: a comédia de ação O Dublê e o prelúdio radical Furiosa: Uma Saga Mad Max. O longa dirigido por David Leitch e protagonizado por Ryan Gosling e Emily Blunt custou cerca de $ 125 mi e arrecadou por volta de $ 180 mi no total, enquanto o novo filme da franquia de George Miller, exibido em Cannes com excelentes avaliações, se tornou um dos grandes alarmes de 2024, com uma bilheteria de $ 170 mi para um orçamento estimado na exata faixa de valor.

Muito se especulou sobre o interesse da plateia em ir ao cinema ter se esgotado, com diversas publicações citando a falta de um lançamento de estreia potente dentro de um intervalo longo de tempo.

PARA ONDE FORAM OS GRANDES LANÇAMENTOS ORIGINAIS?

Como as grandes estreias acabam sempre concentrando franquias atualmente, entre abril e maio o espaço em branco foi preenchido por alguns longas originais com repercussões dignas de nota: Rivais, de Luca Guadagnino, virou um dos filmes mais repercutidos nas redes sociais e teve um desempenho razoável na arrecadação mundial para um material inédito, cerca de $ 96 mi, mas o orçamento de $ 55 mi torna esse valor bem menos atrativo. Um resultado melhor teve o road-movie político Guerra Civil, que se tornou um dos filmes originais mais falados do ano e trouxe a A24 para o arriscado terreno de maiores orçamentos. Com $ 50 mi de produção, o filme de Alex Garland com Wagner Moura no elenco bateu mais de $ 120 mi no total, um saldo animador para projetos de médio/grande porte.

O filme original de maior bilheteria de 2024 curiosamente foi o novo longa de John Krasinski, o misto de live-action com animação Amigos Imaginários. Com cerca de $ 190 mi no total, o filme com Ryan Reynolds teve um desempenho particularmente sólido nos Estados Unidos, mas não chegou nem a dobrar mundialmente o custo de produção estimado em $ 110 mi (demonstração de enorme confiança da Paramount no diretor/roteirista pós-sucesso de Um Lugar Silencioso).

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Autor célebre pelas ideias originais, M. Night Shyamalan não ficou de fora em 2024 e lançou seu controverso Armadilha, thriller que custou cerca de $ 30 mi e bateu $ 82 mi ao redor do mundo, número tímido comparado às suas grandes produções de começo da carreira, mas sólido para o contexto atual de sua filmografia, notoriamente mais econômica nos orçamentos e recebida com mais entusiasmo por parte de muitos críticos do que os seus projetos da virada dos anos 2000 para 2010.

OS HERÓIS – OU O QUE SOBROU DELES

Após um 2023 decepcionante para o filão das adaptações de HQ e super-heróis, foi bastante sintomático o saldo desse ano que acaba de terminar. O único sucesso verdadeiro do setor foi inequivocamente Deadpool & Wolverine, lançamento solo do MCU em 2024 que bateu a marca de $ 1,3 bilhão na arrecadação global. Os números impressionantes demonstram tanto o apelo dos dois personagens quanto a saudade que esse público estava de um filme-evento que funcionasse menos como uma obra cinematográfica autônoma e mais como uma celebração de marca (cinicamente disfarçada aqui de escracho). O apelo da sucessão de aparições deste longa dirigido por Shawn Levy, afinal, não é tão diferente do de Vingadores: Ultimato e Homem-Aranha: Sem Volta para Casa, só que em uma chave de autoconsciência que revela a falência criativa do estúdio e o estado melancólico do gênero.

Melancolia mesmo, porém, foi o fim que levou Coringa: Delírio a Dois. Uma das estreias mais aguardadas do ano e do qual se previa um dos maiores lançamentos de 2024 – devido o sucesso do primeiro filme, a beleza dos trailers e a presença de Lady Gaga – se tornou um dos fracassos comerciais mais retumbantes da história das adaptações de HQ, arrecadando pouco mais de $ 200 mi para um orçamento de praticamente o mesmo valor. A total liberdade criativa de Todd Phillips representa o extremo oposto do cinema corporativista de Deadpool & Wolverine. A sua má recepção, tanto do público quanto da crítica (embora haja ferrenhos defensores de sua ousadia), é uma péssima notícia, portanto, para produções de autor de mega porte. A carta branca, nesse caso, custou caro à Warner.

A boa notícia (para o cinema) é que os fracasso comercial atingiu ainda mais em cheio os filmes de super-herói feitos a título de insistência numa marca. Madame Teia e Kraven: O Caçador estabeleceram novos pisos comerciais para o filão de HQ, com o primeiro arrecadando $ 100 mi em cima de um orçamento já modesto para o gênero de $ 80 mi, enquanto o segundo chegou com dificuldade à marca de $ 50 mi, praticamente a metade do seu custo de produção. A Sony vai precisar de um bom trabalho para limpar a imagem que ficou desses projetos vinculados à Marvel, já que até Venom: A Última Rodada, que teve bons números totais ($ 476 mi), representou uma queda em relação aos anteriores e críticas igualmente negativas.

FRANQUIAS REQUENTADAS CONTRA-ATACAM

A empresa do Mickey teve seu ano comemorativo atrasado, já que 2023 foi muito ruim para as maiores estreias do estúdio. Além do terceiro Deadpool, a marca conseguiu emplacar o fenômeno que foi Divertida Mente 2 – que arrecadou mundialmente mais de $ 1,6 bi – praticamente o dobro dos números já colossais do original. O filme quebrou vários recordes, entre eles o de maior bilheteria do ano, de um filme de animação e da história da Pixar. Abraçada pela crítica, essa sequência tem vários acertos, mas seu sucesso representa um futuro desanimador para a Pixar, outrora casa de grandes ideias originais. O recado é: o público infantil e seus pais não se importam com comida requentada, o que significa praticamente um cemitério (mesmo que temporário) da produção inédita.

Mesmo Moana 2, que seria inicialmente uma série, conquistou cerca de $ 900 mi de arrecadação global e seguirá em cartaz ao longo de janeiro, comprovando a força iconográfica do longa de 2016 e estabelecendo a lógica das sequências pensadas por comitê como a maior garantia de sucesso que a Disney tem no setor das animações.

O mesmo recado foi deixado para a Universal/Ilumination pelo o estrondo da bilheteria de Meu Malvado Favorito 4 – provavelmente a produção de dinheiro mais fácil da Hollywood contemporânea é o que essa franquia tem virado. Com $ 994 mi em números totais, o filme conquistou a marca de terceira maior bilheteria do ano sem esforço e cimenta a saga do Gru como uma das mais seguras de toda a indústria. Também distribuído pela Universal, Kung Fu Panda 4 fechou com cerca de $ 550 mi mesmo com um orçamento modesto para grandes animações ($ 80mi), um resultado acima do terceiro filme.

Por outro lado, é notável também que Robô Selvagem, baseado no primeiro livro de uma série, foi um ponto de frescor nesse mar de derivados e se tornou um sucesso comercial de grande durabilidade, permanecendo por várias semanas no cinema sem perder relevância e arrecadando $ 324 mi tendo custado apenas $ 75 mi. E nota-se que o mesmo destino não veio para Transformers: O Início, de longe o mais elogiado de toda a franquia, mas também de longe aquele com a pior arrecadação, com um orçamento idêntico ao de Robô Selvagem e um resultado total de 129 mi – demonstrando que nem todas as franquias estão em estado de segurança, e essa marca dos autobots da Hasbro com a Paramount já demonstra uma baixa há alguns anos.

E, já nos 46 do segundo tempo, dois projetos de franquias animadas também conseguiram grande apelo mesmo estreando ao mesmo tempo: Sonic 3: O Filme passou em dua semanas a marca dos $ 200 mi no mundo todo, enquanto Mufasa: O Rei Leão, que estreou timidamente, cresceu na semana do Natal e já arrecadou mais de $ 300 mi de bilheteria global. A saga baseada no videogame chegou ao terceiro filme com a melhor aprovação da franquia até agora e já está absolutamente consolidada pela Paramount, que confirmou o quarto filme rapidamente, enquanto o prelúdio de O Rei Leão deve se beneficiar mais da data do que propriamente da recepção mista que ele e boa parte das refilmagens da Disney vem recebendo.

O APELO DAS CONTINUAÇÕES DE LONGA DISTÂNCIA

Havia alguma desconfiança em torno de Twisters, continuação com cara de refilmagem dirigida por Lee Isaac Chung e protagonizada por Glen Powell (o astro-galã do ano, que também estrelou a comédia romântica de grande sucesso Todos Menos Você e a aclamada comédia policial Assassino por Acaso), mas o filme-desastre passou longe do desastre e conquistou a maior parte da crítica. Ainda que tenha tido um desempenho tímido fora dos Estados Unidos, o longa orçado em $ 155 mi e produzido por Steven Spielberg arrecadou cerca de $ 371 mi (sendo $ 268 apenas no mercado norte-americano).

Também muito se suspeitava de Os Fantasmas Ainda se Divertem: Beetlejuice Beetlejuice, sequência do clássico oitentista de Tim Burton também dirigida por ele. Assim como Twisters, o longa se revelou um fenômeno maior nos Estados Unidos do que fora e arrecadou cerca de $ 450 mi ($ 294 mi apenas em bilheteria doméstica) em cima de um custo justificável de $ 100 mi.

Um caso muito particular desse ano também envolveu uma sequência de um clássico. Gladiador II trouxe Ridley Scott de volta à direção em seu projeto de maior escala até hoje, com um orçamento estimado entre $ 210 e $ 250 mi (inchado por conta das paralizações da greve), e, levando em conta a irregularidade da filmografia do diretor, deixou toda a indústria curiosa com a repercussão da continuação protagonizada por Paul Mescal. Com uma reposta positiva da maior parte da crítica, o filme conquistou até o momento $ 435 mi – número quase igual ao original – e segue em cartaz concluindo sua janela. Na prática, os números são sólidos e demonstram interesse em especial do público internacional na marca Gladiador e nesse tipo de produção épica cada vez mais rara – embora provavelmente, devido ao alto custo, o projeto dê prejuízo à Paramount nos cinemas.

HORROR: CELEIRO PARA TODA OBRA

Nenhum gênero mostrou maior versatilidade em Hollywood nesse último ano do que o horror – que notoriamente rendeu muito mais decepções e mediocridades em 2023 do que grandes filmes – e isso se refletiu muito bem na repercussão de público também. Entre os originais, A Substância ganha com alguma vantagem a posição de mais falado de 2024, transcendendo o próprio nicho do horror e chegando forte na temporada de prêmios, acumulando indicações para Demi Moore e para a diretora Coralie Fargeat, vencedora do prêmio de roteiro em Cannes com esse body horror extremo e sem rédeas. Assunto nas redes sociais até hoje, o longa é certamente a maior surpresa do ano do ponto de vista de fenômeno cultural, além de sucesso em bilheteria (fontes sugerem algo entre $ 50 e 70 mi).

Longlegs: Vínculo Mortal, de Osgood Perkins, é outro caso impressionante de um marketing viral (em torno da figura do assassino vivido por Nicolas Cage) que tornou um projeto pequeno um dos maiores trabalhos originais de 2024, com um orçamento estimado em $ 10 mi e uma bilheteria total de mais de $ 120 mi (maior sucesso da Neon no mercado americano), além de uma recepção excelente da imprensa – hype que levou à decepção de muita gente nos meses seguintes, diga-se.

Em números absolutos de arrecadação, porém, os dois maiores filmes de horror de 2024 foram de franquias de alienígenas. Os prelúdio Um Lugar Silencioso: Dia Um e a sequência/prequela Alien: Romulus fizeram, respectivamente, $ 261 mi e $350 mi no mundo todo – ainda que o primeiro tenha se saído melhor em território norte-americano ($ 138 mi contra $ 105 mi). Já o elogiado Sorria 2, que chegou no final do ano, consolidou uma nova e promissora franquia de horror conquistando $ 138 mi no total em cima de um orçamento de $ 28 mi (a continuação já está supostamente em andamento). Até o ambicioso e solene Nosferatu de Robert Eggers, lançado no Natal, está a caminho de se tornar o filme de maior sucesso comercial de sua carreira, com uma estreia excelente de mais de $ 40 mi nos Estados Unidos – chegando ao Brasil em 2 de janeiro.

GRANDES PRODUÇÕES AUTO-FINANCIADAS

Dois projetos de paixão chamaram atenção em 2024 por terem sido produzidas com o dinheiro dos próprios realizadores. Notoriamente, Megalópolis teve um orçamento estimado em $ 130 mi, que Francis Ford Coppola produziu de maneira independente e bancou até mesmo a campanha de marketing. Previsivelmente, o longa épico, visualmente experimental e narrativamente inchado de temas foi um fiasco de arrecadação mundial, com números ínfimos na casa dos $ 13 mi e foi recebido de maneira polarizada pela crítica – um trajeto inicial que desenha um cult-clássico praticamente instantâneo.

Caminho similar, mas com algumas particularidades, foi o que ocorreu no caso de Horizon: An American Saga – Chapter 1, o primeiro episódio de uma suposta série de filmes com 4 planejados e o segundo já filmado. O western de Kevin Costner, por ele também protagonizado e financiado, foi produzido com um orçamento de $ 100 mi (que supostamente pagou também os custos da parte 2) e teve uma bilheteria de $ 38 mi, praticamente um atestado de óbito para westerns clássicos de grande orçamento feitos para o cinema. As críticas também foram bastante mistas e problematizadoras da questão ideológica do trabalho de Costner e, no Brasil, o inconclusivo filme foi lançado diretamente no catálogo da Max – o futuro dos demais capítulos permanece incerto.

O OUTRO LADO DO MUSICAL NA INDÚSTRIA

Wicked (Universal) | Emilia Pérez (Netflix)

Muito se interpretou do fracasso de Coringa: Delírio a Dois que foi a escolha do musical como gênero que manteve o público em casa, mas o fenômeno que foi Wicked nesse final de ano derruba essa ideia por terra. O longa dirigido por Jon M. Chu e adaptado da primeira parte da peça da Broadway se tornou o maior sucesso da história de uma adaptação teatral para os cinemas e já ultrapassou a marca de $ 600 mi, seguindo em cartaz acumulando bilheteria sobretudo nos Estados Unidos (responsável por 67% da arrecadação total do filme). Um dos mais fortes concorrentes ao Oscar, Wicked foi muito bem recebido pela crítica e deve muito da repercussão à força cultural que as músicas e a base possui em território americano.

Já num campo mais autoral, Emilia Pérez, de Jacques Audiard, é o sucesso da Netflix nesta temporada de premiações na indústria e bateu recorde no Globo de Ouro de indicações para um filme de musical/comédia. A produção altamente divisiva segue como um dos principais concorrentes ao Oscar, ao lado de outros lançamentos menores de grande repercussão nas redes sociais e nos prêmios da crítica, ainda que não tenham chegado no grosso do público mundial nos cinemas, como Anora (vencedor da Palma de Ouro), Conclave, O Brutalista e Sing Sing.

CINEMA BRASILEIRO: A VOLTA DOS QUE NÃO FORAM

Ainda Estou Aqui (Sony)

Tido por muita gente como um ano de retorno da produção nacional devido ao estrondoso sucesso comercial e na temporada de prêmios de Ainda Estou Aqui, de Walter Salles, 2024 na verdade faz parte de um novo momento de investimento na produção nacional que vem gerando toda uma repercussão ainda maior em um cinema que já possui uma consagração internacional histórica – ainda que siga lutando por uma difusão verdadeira e sustentável no seu próprio território. Certamente o fenômeno cultural do filme baseado no livro homônimo de Marcelo Rubens Paiva tem o potencial de fazer um público desacostumado com o seu próprio cinema descobrir produções extraordinárias – que neste último ano, particularmente, não faltaram.

Selecionado para representar o Brasil no Oscar de Melhor Filme Internacional, Ainda Estou Aqui transformou Fernanda Torres em uma das personalidades de maior engajamento de todo o ano e levou o assunto da morte de Rubens Paiva e das torturas da ditadura militar ao grande público. O longa bateu a marca de 3 milhões de espectadores e se torou a maior bilheteria de um filme brasileiro no pós-pandemia, com mais de RS$ 60 milhões arrecadados no país em oito semanas em cartaz e sem sair do Top 10 de arrecadação semanal.

Comercialmente, os números de Ainda Estou Aqui podem ser ainda ultrapassados pelo sucesso de O Auto da Compadecida 2, de Guel Arraes e Flávia Lacerda, que trouxe de volta ao público dois dos personagens mais emblemáticos da cultura nacional, interpretados por Selon Mello e Matheus Nachtergaele. O longa, lançado no Natal, teve a maior estreia de uma produção brasileira desde o começo da pandemia e já arrecadou mais de R$ 23 mi nos cinemas.

Inspirada na obra de Vinícius de Moraes e dirigida por Sérgio Machado, a animação Arca de Noé é a mais ambiciosa investida nacional no terreno da animação e, apesar de não ter conseguido competir com as grandes estreias, bateu R$ 2,5 milhões nos quatro primeiros dias em cartaz e ficou entre os mas vistos da semana.

CONSAGRADOS EM FESTIVAIS: FILMES PARA FICAR DE OLHO

Ainda que produções nacionais de prestígio tenham ganhado as telas em 2024 – como Motel Destino, de Karim Aïnouz, O Clube das Mulheres de Negócios, de Anna Muylaert, Grande Sertão, de Guel Arraes, Cidade; Campo, de Juliana Rojas, O Dia que Te Conheci, de André Novais Oliveira, Estômago 2: O Poderoso Chef, de Marcos Jorge, Malu, de Pedro Freire, Greice, de Leonardo Mouramateus, Estranho Caminho, de Guto Parente, Mais Pesado é o Céu, de Petrus Cariry – alguns dos mais elogiados do cinema brasileiro do último ano só devem chegar às telas do circuito aberto em 2025.

Estreando já na segunda semana de janeiro, Baby, de Marcelo Caetano, foi um dos filmes nacionais mais elogiados nos festivais por onde passou, incluindo Cannes, onde o ator Ricardo Teodoro venceu o prêmio de ator revelação na Semana da Crítica. Ambientado em São Paulo e acompanhando a relação de um jovem recém libertado de uma prisão juvenil que, ao não encontrar seus pais, fica solto pelas ruas da cidade e começa uma relação amorosa e conturbada com um homem mais velho que trabalha fazendo programa.

Grande vencedor do Kikito de melhor filme no Festival de Gramado, Oeste Outra Vez se tornou um dos mais aclamados de 2024 nas exibições na Mostra de São Paulo e ainda não tem data para entrar em cartaz. Dirigido por Érico Rassi, o longa é um faroeste tragicômico sobre dois homens em guerra por conta de uma mulher que os largou.

Os Enforcados, de Fernando Coimbra, também promete fazer barulho em 2025 com sua trama brutal e cínica inspirada na máfia da elite carioca. Protagonizado por Irandhir Santos e Leandra Leal, o trabalho ambiciosamente divertido e ácido foi exibido na Mostra de São Paulo e tem potencial de se tornar um dos mais comentados da produção nacional neste ano se chegar ao maior público possível.

Primeiro longa-metragem de Mariana Brennand, o filme Manas foi premiado no Festival de Veneza com o GDA Director’s Award e conta a história dolorida de duas irmãs que tentam sobreviver a uma série de abusos na Ilha do Marajó, no Pará. Mais uma produção de peso dramático e formal, o filme foi exibido no Janela Internacional de Cinema de Recife e merece atenção quando entrar em cartaz.

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André Guerra
André Guerrahttp://estacaonerd.com
Recifense, jornalista, leonino consciente, cinéfilo doutrinador, agnóstico pagão e em constante desconstrução.